Diga a verdade: você vai conseguir ler este texto no celular até o fim sem abrir algum outro aplicatico? Ou então vai conseguir ficar alguns minutos na frente do computador sem dar aquele espiadela na tela do celular para ver se chegou uma mensagem no Whatsapp? É óbvio que dá uma vontade imensa de cair em tentação e ver se lá alguém falou mesmo com você. Mas parar de olhar as notificações de dois em dois minutos é mais fácil que largar o cigarro. Tudo que você precisa é de 24h de abstinência, nas quais você se lembrará dos dias pré-smartphone – quando seu cérebro era capaz de se concentrar em uma tarefa por mais de 10 minutos e executá-la à perfeição.
Martin Pielot, pesquisador na empresa de telecomunicações espanhola Telefónica (sim, a mesma do Brasil, que por aqui é grafada com “ô”), e Luz Rello, da Universidade Carnegie Mellon, nos EUA, testaram se um breve período com apitos e vibrações do celular desativados pode fazer diferença na vida de heavy users. E põe breve nisso: a proposta original do “Desafio Não Perturbe”, como foi intitulado, era uma semana de abstinência – reduzida para um dia após os “olhares distantes, vazios e horrorizados” dos 30 voluntários, que ameaçaram desistir.
O dia fatídico ocorreu em 2015. As cobaias, com medo de que interlocutores inconvenientes (como o chefe) cobrassem respostas mais frequentes, ficaram mais ansiosas durante o período. Por outro lado, se distraíram menos e foram mais produtivas. Até aqui, nada surpreendente.
A notícia boa só veio agora, dois anos depois do detox digital: 50% dos usuários gostaram tanto de ficar sem as notificações que mantém seus celulares no modo silencioso até hoje. 66% deles haviam prometido fazer isso na época do experimento, ou seja: a taxa de sucesso foi bem alta para uma mudança de hábito supostamente tão difícil. O artigo científico com os resultados está disponível para acesso público.
É claro que impedir o celular de avisar as atualizações é diferente de impedir a própria pessoa de abrir o Facebook de dois em dois minutos para ver se há algo novo. Contra seus próprios impulsos, o ideal é usar barreiras discretas, que dificultem o acesso ao aparelho. “As pessoas olham as redes sociais o tempo todo, sem pensar, só porque elas estão lá no telefone”, afirmou à New Scientist Anna Cox, da Universidade de Londres. “Qualquer coisa que torne o acesso só um pouquinho mais difícil pode evitar esse hábito ruim.”