Burnout, a síndrome do esgotamento profissional

Quem se cobra muito, se frustra na mesma medida.

Estresse, exaustão e insônia. Esses são apenas alguns dos sintomas da Síndrome de Burnout, doença também conhecida como síndrome do esgotamento profissional e definida pelo psicólogo alemão Herbert Freudenberger como um acúmulo de estresse e exaustão relacionados ao trabalho.

Dados do International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR) apontam que 72% da população economicamente ativa do país possui altos níveis de estresse. Desses, 32% desenvolveram Burnout, que tem sintomas físicos e psíquicos.

Desconhecida por muitos, a síndrome tornou-se popular e ganhou os noticiários após a demissão da jornalista Izabella Camargo, assim que retornou de uma licença médica para o tratamento da doença. Mas você sabe quais são os sintomas e formas de prevenção da Síndrome de Burnout?

O médico cooperado da Unimed Curitiba especialista em psiquiatria, Gustavo Sehnem, explica que o primeiro sinal da síndrome é um cansaço que persiste mesmo após dormir. “Normalmente a pessoa já acorda cansada e depois, tem dificuldade para se concentrar e lembrar de algumas coisas. Também é muito comum não conseguir terminar tarefas ou manter a atenção nelas por muito tempo”, afirma o médico, que reforça o esgotamento mental e físico do profissional como principal indício da doença.

O psiquiatra aponta que a maioria das pessoas percebe as consequências do estresse na saúde física, enquanto a piora na saúde mental pode passar despercebida.

Nas alterações de comportamento, ele destaca irritabilidade, explosões de raiva, crises de choro, baixa autoestima, desconfiança, isolamento, piora do humor, tristeza, impaciência, alienação e depressão.

Entre os sintomas físicos, estão dores musculares e nas costas, enxaqueca ou dor de cabeça diária, problemas intestinais e baixa imunidade. Em geral, os pacientes têm dificuldade para encontrar a origem desses problemas e podem começar a fazer uso frequente de medicamentos para controlá-los.

Para o psiquiatra, um sinal importante de alerta para a Síndrome de Burnout é o distanciamento afetivo do profissional dentro do ambiente de trabalho. “A pessoa deixa de se envolver no ambiente, começa a perder a empatia. Notamos a alteração no humor, mas a pessoa parece indiferente”, explica.

Ele afirma que muitas vezes o paciente tem crises de pânico e ansiedade, sensação de morte ou perda do controle, recorrentes no diagnóstico de Burnout. Nesse momento, muitos percebem que suas dores e comportamentos não são escolhas, mas sintomas de algo maior. Vale lembrar que as características individuais também contribuem para aumentar as chances de desenvolver a síndrome.

Pausar para prosseguir

A administradora Jully Anne Zink foi diagnosticada com a doença em 2017 e, desde então, mudou hábitos, percepções e o próprio estilo de vida. “Não estava satisfeita com minha situação no trabalho. Sentia-me desvalorizada e a falta de reconhecimento me deixou doente, afetando todas as demais áreas da minha vida”, lembra.

Após perceber todos os sintomas, ela buscou ajuda e, durante um curto período de afastamento para tratar a doença, reavaliou pontos que seriam fundamentais para ficar bem. “Percebi que trabalhar para conquistar bens materiais faz parte, mas que precisamos ter uma vida saudável e aproveitar momentos com a família e amigos para nos sentirmos realizados. Cheguei à conclusão de que tudo precisaria caminhar no mesmo trilho para que eu estivesse bem”, afirma. Jully recorda que experimentou um misto de sentimentos até conseguir tomar decisões que mudariam a sua vida. “O medo e a insegurança existiram, pois deixar uma carreira para trás assustava e não parecia ser o melhor caminho, não era confortante. Porém, me deparei comigo mesma e já não me reconhecia no ambiente de trabalho. Foi aí que eu percebi que precisaria me reinventar. E foi o que eu fiz”.

Com o apoio da família, dos amigos e do médico que a acompanhava, ela deu o primeiro passo para a cura da Síndrome de Burnout. “Além de deixar o grupo em que trabalhava, sabia que precisaria de uma pausa para, então, recomeçar. Neste período, constatei que mudar a área de atuação ou de empresa não seria o melhor caminho. Abrir meu próprio negócio, administrando meu tratamento, minha família, minha rotina, meus horários e o meu trabalho, foi libertador. Me redescobri e os novos desafios me fizeram seguir em frente. Hoje estou bem, sei os pontos cruciais para evitar a doença e procuro manter o equilíbrio, optando sempre por aquilo que faz bem para a minha saúde e para a minha vida”, conta a administradora.

Como evitar

Aumentar o convívio com amigos, praticar atividades relaxantes, como ler e escutar música. Ter um tempo exclusivamente para dedicar a si mesmo é essencial para manter-se saudável, com corpo e mente em sintonia.

Ter uma boa relação com a profissão e ver os frutos do trabalho ajudam a minimizar as chances de adoecer. Colocar o que incomoda para fora também é um recurso para manter a saúde do corpo e da mente. Segundo Sehnem, deixar de falar uma coisa que não nos agrada em algum colega de trabalho para evitar constrangimento retém uma emoção negativa e o organismo acaba encontrando uma maneira de colocá-la para fora – na forma de doenças psicossomáticas.

Eliminar trabalhos desnecessários e simplificar atividades é fundamental. “É precioso parar e avaliar tudo que está sendo feito, eleger prioridades e delegar as atividades menos importantes”, indica o médico cooperado da Unimed Curitiba, reforçando que a organização também ajuda a ter um dia de trabalho mais produtivo.

Quem se cobra muito, se frustra na mesma medida. E é por isso que o especialista lembra sobre a importância de dizer “não” e excluir um possível sentimento de culpa por não conseguir dar conta de tudo. O resultado desta prática, porém, não é uma rotina repleta de satisfações, mas certamente será melhor para a saúde.

Por fim, Gustavo Sehnem reforça que, se a situação ameaça fugir do controle, o indicado é ter o acompanhamento e a orientação de um profissional que possa ajudá-la a se reequilibrar.

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