A partir da determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, as manifestações e bloqueios em rodovias em todo o Brasil contra o resultado das eleições do dia 30 começaram a ser dissipados pelas forças de segurança pública – Polícia Rodoviária Federal e Polícia Militar. Em Cascavel, os manifestantes bloquearam a BR-277 no Trevo Cataratas por três ocasiões na terça-feira. Na última, o Pelotão de Choque entrou em ação e dispersou os manifestantes utilizando bombas de gás lacrimogêneo.
Os protestos tiveram início na noite de domingo, logo após o resultado do pleito, tomando conta de boa parte das estradas do país. Às 16h de terça-feira, as rodovias paranaenses ainda registravam perto de 80 pontos de bloqueios, sendo 27 em rodovias federais. Eram 16 trechos interditados totalmente e 11 com barreiras parciais.
De acordo com informações da PRF, 74 pontos foram liberados desde o início da madrugada de terça-feira. Em todo o Brasil, eram 200 pontos com registro de protestos de manifestantes que contestam a vitória de Lula nas eleições. A manifestação afetou também a chegada de caminhões no Porto de Paranaguá, no litoral do Paraná. Nesta terça-feira, a principal via de acesso ao Porto, a BR-277, ficou bloqueada em ambos os sentidos, a partir do quilômetro 5.
Segundo a Portos do Paraná, a partir de dados do Pátio de Triagem, onde os caminhões chegam para aguardar a descarga dos granéis sólidos vegetais de exportação, apenas 54 caminhões foram recebidos na tarde de segunda-feira.
São cerca de 700 caminhões que estão para chegar, segundo estimativas da Diretoria de Operações da Portos do Paraná. A capacidade estática no Pátio de Triagem são 800 veículos. A diretoria de operações informou que, apesar do bloqueio rodoviário, os portos seguem operando, mas com chegada reduzida de caminhões.
Em nota, a empresa informou que os operadores portuários já têm adotado medidas em relação aos agendamentos para evitar filas e maiores transtornos. As equipes das empresas e da Portos do Paraná seguem monitorando a situação junto às autoridades responsáveis. “A autoridade portuária informa, ainda, que quando houver previsão de liberação das pistas, serão decididas as novas medidas frente ao fluxo acumulado”.
Falta de combustíveis
O Sindicato dos Revendedores de Combustíveis e Lojas de Conveniências do Estado do Paraná – ParanaPetro, admitiu que os postos estão sofrendo com a falta de produtos devido as paralisações nas rodovias. Há questionamentos também sobre os aumentos que têm sido registrados desde o fim de semana. Em Cascavel, por exemplo, o preço do litro da gasolina já subiu R$ 0,30 de sábado até ontem (1º). Segundo a ParanaPetro, os aumentos não têm relação com a paralisação e ocorrem por conta do repasse dos aumentos pelas distribuidoras aos postos de combustível. As distribuidoras alegam custos adicionais de importações, alta no biodiesel e no etanol.
Informações são de que, por conta dos protestos, o combustível não tem alcançado as bases de distribuição, já causando a falta de produtos em alguns postos. Se a situação nas estradas não se normalizar, o desabastecimento poderá ser percebido com mais intensidade partir desta quarta-feira. Enquanto isso, as pessoas têm corrido aos postos de combustível, formando filas, temendo a falta do produto.
Transporte de oxigênio
A Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química) informou, em nota à imprensa, que as manifestações nas rodovias estão colocando em risco o transporte de oxigênio líquido medicinal, destinado a clínicas e hospitais. A Abiquim disse que acompanha atentamente as notícias e movimentações relacionadas aos protestos e bloqueios de rodovias em diferentes regiões do país.
“Especificamente no setor de saúde, as manifestações estão colocando em risco o transporte de Oxigênio Líquido Medicinal, destinado a clínicas e hospitais, locais nos quais é utilizado para a manutenção e preservação da vida de pacientes em UTI’s ou CTI’s em estado crítico, ou que estejam sofrendo de crise respiratória”, alertou a nota.
Segundo a entidade, é necessária a urgente liberação da circulação sem bloqueios no país para que tanto o oxigênio quanto os demais produtos essenciais à vida do brasileiro sigam chegando ao seu destino.
Fetranspar se posiciona contraria as manifestações
A Fetranspar (Federação das Empresas de Transportes de Cargas do Estado do Paraná), entidade que representa mais de 20 mil empresas do setor no estado, juntamente com seus sindicados filiados, disse em nota reconhecer o direito da livre manifestação dos trabalhadores caminhoneiros que, desde a noite do último domingo, fecham estradas em diferentes pontos do Paraná.
Porém, a entidade afirma que as manifestações nas rodovias impedem o tráfego também de caminhões responsáveis pela garantia do abastecimento, sobretudo aqueles que transportam os insumos básicos, a exemplo de alimentos, medicamentos, combustíveis e suprimentos para hospitais.
Neste sentido, a Fetranspar reprova os atos de bloqueios e impedimentos do tráfego de quaisquer veículos. Reforça ainda que trabalhadores das empresas de transportes do estado não integram esses grupos e desejam manter suas atividades na normalidade. Para que isso ocorra, a entidade necessita a garantia da segurança dos motoristas e colaboradores do setor no exercício desta atividade fundamental. “É imprescindível que haja a liberação das rodovias para que ocorra o tráfego normal de veículos”, diz a nota assinada pelo presidente da federação, Coronel Sérgio Malucelli.
Faep faz alerta para desabastecimento
A Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná), entidade que representa os produtores rurais do Paraná, desde a noite do último domingo (30), tem acompanhado os bloqueios e paralisações de tráfego em diversas estradas do Brasil. “A entidade se posiciona de forma contrária a esse tipo de intervenção, por entender que essas ações impactam diretamente a população brasileira, geram risco de desabastecimento em muitas cidades e dificultam o escoamento das produções agrícola e pecuária”, diz um dos trechos da nota. A Faep também diz respeitar o direito constitucional da livre manifestação, mas de forma que não prejudique e/ou impacte negativamente o direito de ir e vir das pessoas, a cadeia produtiva do agronegócio nacional e a economia do país.
Foto: Guia Medianeira/Informações Jornal O Paraná