Renato Forin Jr. chega à cidade com “Costuras poéticas pelo fio da voz”, trabalho em que vasculha canções e histórias orais formadoras do Brasil em perspectiva subjetiva
Neste sábado, dia 24 de junho, Quedas do Iguaçu poderá conferir gratuitamente um misto de palestra, show e recital poético conduzido pelo escritor Renato Forin Jr., de Londrina (PR), a partir de seu livro-CD “Samba de um a noite de verão”, contemplado com o Prêmio Jabuti em 2017. A apresentação está agendada para as 20 horas no Centro Cultural de Quedas do Iguaçu (Av. Tarumã, 1880). Os ingressos podem ser retirados no próprio dia 24, na bilheteria do teatro. Quedas é o terceiro município a receber o trabalho em turnê que passa por dez cidades do Estado e que tem apoio exclusivo da Copel em projeto aprovado no Programa de Fomento e Incentivo à Cultura (PROFICE), da Secretaria de Estado da Cultura e Governo do Estado do Paraná. O apoio cultural é do Agon Teatro. “Costuras poéticas pelo fio da voz” nasceu a partir dos convites para palestras que Forin Jr. recebeu de escolas depois da premiação do livro. “Eu chegava na sala de aula e percebia uma ideia cristalizada no imaginário dos alunos sobre o perfil e a história de um autor. Gostava de contar minha trajetória, porque muitos se identificavam: não tive uma infância cercada de livros, o que não significa que estive apartado da poesia. Ela estava nas histórias orais e canções da minha família. A paixão pelo livro vem só depois, e ele esteve sempre a serviço da voz”, explica. Na aula-espetáculo, Renato recorre aos primeiros contadores de história de que se tem registro – os griôs africanos e os rapsodos gregos –, e os atualiza por meio da potência oral do Brasil, herança da formação étnica. O nome “costuras poéticas” faz referência à etimologia de rapsodo, já que _rhaptein_, em grego, significa coser. Estes multiartistas ancestrais eram como “costureiros” que alinhavavam conhecidos textos-tecidos. É um exercício que Renato também pratica na aula-espetáculo, ligando trechos de suas obras a produções de escritores e compositores brasileiros, africanos e europeus de diferentes linhagens.
De sua criação, Forin Jr. utiliza principalmente “Samba de uma noite de verão”, livro lançado em 2016 que reescreve o “Sonho de uma noite de verão”, de Shakespeare, à brasileira, ou seja, com o propósito de construir uma metáfora da formação do país em perspectiva crítica. Assim, além de personagens típicos do nosso imaginário, como malandros, sambistas, lavadeiras e políticos, agrega à história deidades da mitologia dos orixás e lendas da cosmogonia ameríndia.
As três matrizes culturais que confluem na formação do país, ora de forma amistosa e ora de modo violento, estão representadas na aula-espetáculo. “O samba, sendo hoje reconhecido como símbolo nacional e produto de exportação, é um retrato da nossa história complexa, das marcas coloniais: ele sobreviveu a criminalizações institucionais e tentativas de silenciamento a partir da célula angolana e da recriação dos negros escravizados ou das comunidades populares subalternizadas. Podemos entende-lo simbolicamente também como produto das misturas: as percussões africanas, os sopros indígenas e as cordas ibéricas”, pontua Renato. Ele acrescenta que abordará também outras referências brasileiras que são resultado da reinvenção da diáspora, como a umbanda e as manifestações de roda.
Dentre os sambas que Renato interpreta no espetáculo está “Compasso da Vila”, letra integrante do seu livro-CD, que descreve o cotidiano da Vila de Vera Cruz, onde é ambientada a fábula. Após cada apresentação, haverá lançamento da obra. “Costuras poéticas pelo fio da voz” tem classificação indicativa livre e pode ser acompanhado pelo público em geral. Esta turnê é ainda dirigida especialmente a professores do ensino básico, educadores em geral, mediadores de leitura, bibliotecários e estudantes de Letras ou outras disciplinas artísticas. Um programa impresso foi preparado como material de apoio no contexto didático para estes espectadores. “A expectativa é que possamos cerzir uma nova colcha de histórias e saberes em cada um desses locais. Apesar de passar por temas complexos, procuro fazer na aula um exercício íntimo, subjetivo, para que encontremos em nossa infância e na nossa ancestralidade o fio da meada de quem somos hoje, o fio da voz que continuamos fazendo vibrar no mundo”. A aula-espetáculo tem direção de produção de Danieli Pereira e técnica de Ricardo Grings. As bases musicais são de Gustavo Gorla e a preparação vocal é de Paulo Vitor Poloni.
Créditos/fotos: Marika Sawaguti