Uma nova terapia para a doença de Crohn acaba de ser aprovada no país pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ustequinumabe, fabricado pela farmacêutica Janssen, amplia as opções de terapia para os pacientes que sofrem da doença. As indicações aprovadas no Brasil são tanto para quem falhou ou não tolerou tratamentos com um ou mais anti-TNFs (anti fator de necrose tumoral) como para pacientes que nunca tiveram falha com outros anti-TNFs, mas que falharam ou demonstraram intolerância ao tratamento com corticosteroides.
Com um mecanismo de ação inovador, ustequinumabe alivia os sintomas da doença de maneira rápida e mantém a resposta por um período de tempo prolongado. Outro diferencial do medicamento é a comodidade posológica – após dose única de indução endovenosa, é necessária apenas uma aplicação subcutânea a cada três meses.
“A doença de Crohn é uma condição complexa de tratar e nem todas as terapias funcionam para todos os pacientes. A aprovação de uma nova opção terapêutica com mecanismo de ação alternativo representa um importante avanço no tratamento, tanto para os pacientes que nunca fizeram uso de biológicos quanto para aqueles que não conseguiram bons resultados com terapias anteriores”, explica o gastroenterologista do Hospital Israelita Albert Einstein, Flavio Steinwurz.
De acordo com a gastroenterologista Cristina Flores, do Hospital das Clínicas de Porto Alegre – um dos sete centros brasileiros que participou do ensaio clínico sobre ustequinumabe para Doença de Crohn –, a rápida resposta do organismo ao medicamento, observada já na terceira semana de tratamento, e a ausência dos sintomas da doença por um longo tempo melhoram a qualidade de vida do paciente, sobretudo daquele já sem esperança de melhora.
Resultados de ensaios clínicos
Estudos clínicos do medicamento, que envolveram mais de 1.300 pacientes em diversos países, incluindo o Brasil, mostraram que a maioria dos pacientes tratados com ustequinumabe mantiveram a resposta ao tratamento e obtiveram a remissão da doença (sem sintomas), para a qual ainda não existe cura, por até dois anos[1].
O estudo UNITI-1, que avaliou ustequinumabe em pacientes que não haviam obtido sucesso com a terapia biológica (bloqueadores de TNF), demostrou que 34% destes pacientes atingiram resposta clínica (alívio significativo dos sintomas) em apenas seis semanas após receberem uma única infusão intravenosa de ustequinumabe. Este resultado sobe para 56% no estudo UNITI-2 que avaliou o medicamento em pacientes que nunca tinham recebido terapia biológica.
Em ambos os estudos a maioria dos pacientes que responderam à dose inicial e continuaram o tratamento com doses de manutenção por via subcutânea a cada 8 ou 12 semanas, estavam em remissão após um ano de acompanhamento.
Sobre a doença de Crohn
A doença de Crohn é uma condição inflamatória crônica que pode acometer qualquer parte do trato gastrointestinal. Os sintomas da doença podem variar, mas, geralmente, incluem dor e sensibilidade abdominal, sangramento retal, perda de peso, febre e diarreia frequente – em alguns casos, por mais de 20 vezes ao dia.
A doença não tem cura e o tratamento, que pode ser feito com medicamentos ou, em determinadas situações, com cirurgia, tem o objetivo de eliminar os sintomas e devolver o bem-estar do paciente.
No longo prazo, alguns medicamentos proporcionam a cicatrização da mucosa do intestino, o que leva à remissão da doença. Nessa fase, o paciente pode ter uma vida normal, sem sequelas inflamatórias.
No estágio inicial da doença, é comum o uso de anti-inflamatórios específicos. Nas fases mais agudas, indica-se o uso de corticoides ou imunossupressores. Porém, se o paciente não responder a esses tratamentos, medicamentos biológicos podem contribuir para melhorar consideravelmente a qualidade de vida dos pacientes.